Mãe Tiquinha
Acredito que parte da sociedade Areia-branquense em especial da religião espiritualista, digo, umbanda e candomblé, sabem da minha participação ativa diante dessa milenar religião afro-brasileira. E foi em conversa com alguns adeptos dessa religião que hoje feliz da vida, escrevo sobre uma pessoa que por forças superiores não se encontra mais em nosso meio como ser humano, digo em matéria, mais sim, em espírito. Falo de Francisca Andrade de Souza ou simplesmente Mãe Tiquinha.
Foi, e para sempre será uma das mais celebres sacerdotisa da religião matriz africana da salinésia. Sua casa era muito bem freqüentada, por pessoas advindas de todas as partes do Brasil e por que não dizer do mundo. Que a procurava em busca de ajuda espiritual. Ela sabia ser acolhedora, amável e carismática. Sempre com um belo sorriso no rosto. Mãe Tiquinha possuía um exemplar modelo de mulher forte, que lutava pelo que queria, e não fugia da luta. Proclamada como uma grande yalorixá da nossa cidade. Ela foi percussora, juntamente com o seu esposo José Pedro (In memória), por trazerem a esse solo o candomblé nagô.
Mãe Tiquinha iniciou sua vida espiritual, junto a uma outra grande sacerdotisa e mestra em jurema. Sebastiana na década de 60, a onde mãe Tiquinha na época era uma simples média. Realizava maravilhosos trabalhos quando a mesma incorporava grandes entidades juremeiras como, Mãe Tumtum, Mãe Joana de Fulôr, Mestre Zé da Virada, Luiz dos Montes, Pé de Garrafa, Zé Pereira, Zé das Porteiras e Zé Pelintra. Já nos anos 70, mãe Tiquinha se juntava a outros profundos conhecedores do culto jurema sagrada, digo, Edwirgens, Maga e Eurico Cabeceira.
Ela já se sentindo cobrada pelos orixás em 1966, foi de muda para natal, em busca de quem a iniciar-se nos caminhos dos orixás. Por lá encontrou o babalorixá Carol e por fim o babalorixá Nino da Mostardinha. Retornando a sua cidade natal, junto com José Pedro fundaram a casa de candomblé com o nome de “Abassá de Ogum Tay Ósy”.
Nesse momento Areia Branca, já era conhecida em todo mundo, por ter acolhida de forma tão brilhante a matriz africana. Por imposições das sagradas mãos de Mãe Tiquinha, foram feitas varias feituras de orixás em seus filhos, filhas e netos de santos. Quero aqui destacar algumas delas, dona Lourdes de Ogum Xerokê (minha mãe), Dodora de Iemanjá e Cacilda de Xangô (minhas irmãs) Nerice de Ogum Mariwô, dona Luzia Porciano de iemanjá, Francisca de Omulu, Ricardo Periano de Omulu, Inacia de Oxum e muitos outros. Mãe Tiquinha tinha como orixá Omulu e Oyá Vanjú.
Mãe Tiquinha era uma mulher que tinha o coração maior que o próprio corpo; caridosa, incapaz de negar ajuda a quem quer que fosse mesmo sendo pessoas que dela não queriam bem. Mãe e amiga de todos os seus filhos e filhas de santo, mas também bastante severa, quando estes procuravam fugir de suas obrigações.
Pois um acidente automobilístico, ocorrido no dia 09 de setembro de 1992, tirou-lhe a vida abrupscamente, juntamente com sua companheira de abassá dona Terezinha Amorim filha de Oyá. Areia Branca naquela tarde foi surpreendida com a noticia do acidente e morte da grande yalorixá.
Ela se foi, deixando seus familiares, seus inúmeros filhos de santos e amigos. Porém deixou um expressivo espólio religioso, além de memoráveis lembranças da sua passagem pela terra. Prefiro caro leitor não trazer na lembrança o seu corpo inerte dentro daquele caixão, e sim, lembrar-me da imagem dela sorrindo, ou fazendo os ebós de abrir caminho, como também dela deliciando-se de uma cervejinha gelada ouvindo as musicas dos seus cantores preferidos, Bezerra da Silva e Agepê.
Quero aqui pedir permissão às grandes cantoras do nosso Brasil, Gal Costa e Maria Bethânia, quando as mesmas cantam e encantam a canção em memória de uma grande sacerdotisa da oxum Mãe Menininha do Gantóis, ó minha mãe, menininha... Agora a minha tradução quando eu fico a cantarolar, “ó minha mãe, mãe Tiquinha, ó minha mãe, mãe Tiquinha do Abassá”.
Peço a vós minha doce e amável mãe, onde estiveres rogue aos orixás pela felicidade de seus filhos de santos, familiares e amigos que por aqui deixastes. E que continue a bailar em louvores dos orixás pelos barracões e Abassás da eternidade. A vós minha mãe, peço-lhe minha benção, meu kolofé yá. Saudades de mãe Tiquinha.
toda as terças-feiras o nosso portal estará postando as crônicas de Paulo César de Brito.
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