Tenho a frustração de não ter conhecido Jorge Amado em pessoa. Fui a casa dele em Salvador junto com outros alunos do Ispac em 1997. Mais ele estava viajando para França. Quem nos deu o recado foi uma preta meio idosa, porém muito sorridente. Quem éramos nós, e se queríamos deixar algum recado para o doutor? Perguntou-nos a nobre senhora. Nós somos alunos do Ispac. Voltaremos outro dia. Eu particularmente sai dali com a sensação de quem foi a Roma e não viu o papa
Com a turma de alunos a qual fazíamos o curso como já disse no Ispac, juntamente com os professores e diretores, dávamos uns giros pela cidade misteriosa. Visitamos a Igreja do Senhor do Bonfim, só não participamos da lavagem da escadaria, por que já tinha passada à data 06 de janeiro. Mais ainda exalava no ar o forte cheiro das águas perfumadas, que banharam a ladeira do Bonfim como é mais conhecida. De lá fomos ao Mercado Modelo de triste memória, era naquele lugar onde os negros eram comercializados, quando chegavam trazidos arrancados a força da sua pátria a tão sofrida “Mãe África”. Subimos no elevador Lacerda. Seguimos até a Igreja de Santo Antonio. De lá fomos direto ao bairro do pelourinho, visitar o museu afro-brasileiro e a antiga casa do escritor Jorge Amado. Na verdade o bairro do pelourinho é o maior centro comercial de Salvador. É ali naquele pedaço da cidade, que muito serve de cenário para filmagens dos filmes que envolvem a Bahia. Pois o verdade pelourinho que seria uma espécie de “tronco” de tristes lembranças, onde os nossos antepassados eram duramente castigados a base de chicote feito de couro cru, por lutar pelos seus diretos, e que muita das vezes batiam de frente com os patrões. Existe um tronco daquele, mais é guardado dentro do museu.
No roteiro uma visita a uma casa de candomblé. Em nossas caminhadas, quando percebi estava numa rua de sobrados antigos, os sons dos atabaques do candomblé anunciando a Bahia. Anoitecia. Um novo Yawô (feitura de santo) nascia na Bahia de todos os santos e axés, a envolver a cidade toda inteira num abraço maternal de uma mãe de santo cativa. Paramos todos de frente a uma casa com a pintura externa toda branca, alguns minutos já estávamos dentro da casa de candomblé.
Dentro da casa já corria o candomblé na plenitude do seu ritual africano. Mulheres pretas, suadas pingando, na gira incorporando os seus deuses. Um cheiro forte de incenso com águas cheirosas. Olhamos em nosso redor, havia lugar num banco, sentamos todos. Sento-me ao lado de uma senhora de aparência de fino trato que cantava convicta, os “pontos” dos orixás em nagô. Como eu sabia de parte dos cantos, cantava-os com muita alegria saudando a todos os orixás. Na ocasião encontrava-se ali presente uma equipe de reportagem do programa Globo Repórter, cujo objetivo era realizar uma matéria com um dos melhores ogãs da Bahia, Beto Jamaica de Ogum Xerôkê. Pois a casa de axé pertencia a sua mãe a grande sacerdotisa Mãe Augusta. Beto Jamaica é uma pessoa simples, carismática e irreverente. Pois o mesmo não se cansava de conversar com todos os presentes naquela noite. O cara era um exímio tocador de atabaques, função dele na casa era de Ogá Alagbè, chefe da orquestra.
Lá para as tantas, um intervalo. Foi então que a minha vizinha de banco sabia ela por que, quis conversar comigo. E perguntou-me, é a primeira vez que você vem ao nosso centro? Sim. Estou aqui em Salvador vindo da cidade de Areia Branca no Rio Grande do Norte, para um estudo. Ela me olhou de olhos fitos, penetrantes, como devassando todos os recantos da minha alma. Você é rodante? (pessoa que incorpora orixás), fiz que sim, com gesto de cabeça. Coisa de uma da manhã terminou tudo. Fomos à praia de Itapoã e a lagoa do Abaeté, tomamos algumas cervejas geladas e comemos acarajé com pimenta (laroiê Exú!) e fomos para casa descansar daqueles momentos felizes. Saudades da capital baiana.
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