Apesar da aprovação popular e do mérito de ter reinserido as forças do Estado permanentemente na região, a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Cidade de Deus ainda não conseguiu eliminar o tráfico de drogas na comunidade da zona oeste do Rio de Janeiro.
Maior UPP entre as 13 do município e inaugurada em fevereiro de 2009, a unidade é a experiência mais próxima que as autoridades fluminenses dispõem para servir de referência no projeto de implementação da UPP do Complexo do Alemão, programada para o primeiro semestre de 2011.
Ao circular pelas ruas da apelidada CDD (Cidade de Deus), é difícil encontrar um morador que não afirme que a venda de entorpecentes ainda aconteça nas vielas ou nas regiões dos conjuntos habitacionais erguidos na década de 60.
O próprio comandante da UPP local, o capitão da Polícia Militar José Luiz de Medeiros, 30, admite que o trabalho iniciado com instalação da unidade ainda não conseguiu acabar o tráfico gerido pelo Comando Vermelho (CV). “Microtraficantes a gente prende quase todo dia”, disse ele, atual líder armado da comunidade de 140 mil habitantes –o Alemão, para efeito de comparação, tem estimados 300 mil.
Atualmente, no entanto, o comércio de narcóticos não acontece abertamente, em bocas de fumo com endereço conhecido e protegidas por homens armados com fuzis. Segundo o policial, seguindo ordens dos antigos chefes do tráfico na CDD, crianças são recrutadas para a venda de drogas –algumas com idade entre “8 e 16 anos”– e idosos escalados para entrar na região com o entorpecente.
Recentemente, os policiais prenderam uma mulher de 65 anos que estava entrando na comunidade com 3 mil papelotes de cocaína em uma sacola de compras. Há um mês, como conta Medeiros, uma menina de 16 anos foi abordada enquanto estava com um bebê de dois meses no colo. Na fralda da criança, estavam embalagens com cocaína –e o restante do estoque estava na bolsa usada para abrigar cuidados de higiene do recém-nascido